Em apenas quatro anos, Gustavo Henn iniciou no
motocross, garantiu um título brasileiro e conquistou ainda uma vaga para
disputar uma etapa do Mundial, que será realizada neste fim de semana, dias 19
e 20, no Parque Beto Carrero World, em Penha (SC). O garoto catarinense de
apenas 17 anos, natural de Mondaí, se destaca no cenário nacional e já é
apontado como o futuro do esporte. Na entrevista abaixo, Gustavo fala sobre a
evolução na carreira, sua rotina e a oportunidade de encarar os melhores do
mundo em sua primeira prova internacional. Confira!
Ano passado você
conquistou o título brasileiro de motocross na categoria 85cc, chamando atenção
pelo número de vitórias e a vantagem que abriu sobre os adversários. Mas antes
disso, pouca gente no esporte lhe conhecia. Como foi o seu começo?
Gustavo Henn:
É verdade, a maioria dos pilotos são filhos de ex-pilotos e chefes de equipes,
mas eu não tenho este tipo de ligação e ninguém sabia de onde eu vinha até eu
me destacar. O interesse surgiu a partir de alguns amigos que andavam de moto e
organizavam regionais, às vezes, eles me convidavam para ir treinar com eles e
eu ficava cada vez mais fissurado. Eu ganhei minha primeira motocicleta em
dezembro de 2007, mas foram três anos de muita insistência até que meus pais
cederam. Então, eu estava com aquela máquina na mão, mas não sabia nada, nem
ligar a motocicleta (risos). Acontece que eu queria praticar motocross!
Felizmente, meus pais resolveram apostar em mim. Já no início de 2008, passei a
treinar com o Milto n “Chumbinho” Becker. Ele me ensinou os primeiros passos, acho
que não poderia ter escolhido um professor melhor, não é? Vendo toda a história
dele, passei a me interessar, já não queria apenas saber andar, queria ser um
piloto profissional. Então, fui atrás de um mecânico e conheci o Cristiano
Giovanela, que trabalha comigo até hoje. Ainda em 2008, fiz duas etapas do
Brasileiro de Motocross, mas fiquei lá para trás. Já em 2009, corri toda a
temporada e terminei em 15°. Em 2010, vinha muito forte, estava em terceiro na
tabela, mas acabei quebrando o braço e tive que passar por cirurgia. Logo
quando eu retomei o treino, quebrei o pulso e encerrei o ano de molho. Os
primeiros anos foram difíceis, a adaptação foi lenta, e eu ainda competia com
atletas que passaram por categorias de base, que tinham mais experiência. Mas,
ao lado do Chumbo e do Cris, aprendi a ser disciplinado, assim que me
recuperei, me foquei no que eu mais queria. Em 2011 levei quase todas e garanti
o caneco nacional na 85cc.
Você é um adolescente
e a vida de atleta requer muitos cortes. Como você lida com isso?
Gustavo Henn: A
vida é feita de escolhas e eu escolhi ser piloto profissional. Sou bastante
disciplinado, levo a sério meus treinos, folgo apenas no domingo, não vou a
festas, não bebo. Sigo muito aquilo que os meus pais e os profissionais que estão
ao meu redor me dizem. Meu estudo é à distância, através de uma escola de São
Paulo, atualmente estou no terceiro ano do ensino médio. Foi a melhor forma que
encontrei para conciliar com a minha rotina de treinos e competições, já que
viajo bastante também. Eu faço aquilo que amo, logo, abrir mão de algumas
coisas não se torna um sacrifício.
Quatro anos competindo
e você já garante uma vaga para participar de uma etapa do Mundial. Muitos
queriam estar no seu lugar. Como você encara esta oportunidade?
Gustavo Henn:
Eu estou muito feliz com esta oportunidade e com tudo que venho conquistando
desde que resolvi me tornar um piloto profissional. Jamais imaginei que tudo
ocorreria tão rápido. Disputar uma prova ao lado dos melhores do mundo é um
sonho, irei alinhar no gate com o Jeffrey Herlings, que é um ídolo para mim.
Esta será uma grande experiência e quero aproveitar ao máximo para crescer com
ela. Eu aprendo muito observando e não há cenário melhor para isso que o
Mundial.
Ouve alguma preparação
especial para esta participação no Mundial? Você traçou uma meta?
Gustavo Henn:
Não alterei minha rotina de treinos em função do Mundial, nem tracei uma meta
para a etapa. Este é meu ano de estreia na categoria MX2 e desde o início da
temporada minha única intenção é evoluir a cada prova. Não tenho chances reais
de brigar por títulos, ainda estou domando a 250cc, enquanto outros pilotos já
fizeram isso faz tempo. Não sinto a menor pressão e isso está sendo muito bom,
pois, mesmo sem cobrança, estou conseguindo crescer e me preparar para os
próximos anos. Quero sempre fazer o meu melhor e é isso que planejo para esta
etapa do Mundial, representar bem a minha equipe, a Pro Tork 2B Kawsaki
Racing.
Na temporada passada,
você teve a oportunidade de conhecer a pista durante a disputa da Superliga,
apesar da prova ter sido cancelada devido ao mau tempo. Qual sua impressão
sobre ela?
Gustavo Henn:
Eu gostei muito da pista, lembro que acabei fazendo o melhor tempo no treino
cronometrado daquela etapa. É um traçado bastante técnico e, com as melhorias
para o Mundial, deve ficar com várias canaletas e buracos. É um circuito
difícil, estou ansioso pela disputa.
Um fato curioso é que
você tem largado na frente nas últimas provas, superando pilotos mais
experientes. Como é sair na ponta e lidar com a pressão de ser perseguido? Você
está pronto caso isso ocorra no Mundial?
Gustavo Henn:
Estou treinando muito largada, acredito que o meu peso contribui um pouco para
que eu saia na frente (risos). Largar em primeiro é uma grande vantagem, mas
ainda não é fácil para mim lidar com os adversários atrás, muito menos manter a
posição. Geralmente eu aguento apenas uma ou duas voltas, pois acabo escolhendo
linhas não tão rápidas, não tenho ninguém na minha frente para me guiar, enfim.
Estou naquele processo de adaptação e evolução que já mencionei. Tem rolado uma
brincadeira durante os treinos e estou provocando meu mecânico Cris para
apostarmos algo em relação a isso no Mundial (risos). Quero ganhar alguma coisa
se eu largar na frente! Na verdade, tudo isso é s&o acute; para
descontrair, seria muita sorte se isso se tornasse realidade. Se já é difícil
largar e manter a ponta nos nacionais, imagina no Mundial. Ainda é algo
distante, mas sonhar é preciso (risos).
O fato de integrar uma
grande equipe está lhe ajudando a crescer na modalidade?
Gustavo Henn:
Com certeza. Quando eu iniciei meus treinos com o Chumbinho e vi tudo o que ele
conquistou ao lado da Pro Tork, ficava imaginando o dia em que seria seu colega
de equipe. O time é bastante forte, além do Chumbo, tem ainda o Antonio Jorge
Balbi Júnior, atual campeão brasileiro e da Superliga. Estou ao lado dos
melhores e eles estão me ensinando muita coisa. Conversamos muito durante as
competições, eles me ajudam na preparação técnica e física, orientam o meu
mecânico Cris no acerto da moto, enfim. É uma grande parceria. Além disso,
conto ainda com os melhores equipamentos. Se eu garanti esta vaga no Mundial,
boa parte se deve a equipe e ao trabalho que está sendo feito. Sinto muito
orgulho em representar a Pro Tork e es pero dar muitos títulos a ela
ainda.
Agora que você já se
tornou profissional, qual é a maior conquista que você pode imaginar para o
futuro?
Gustavo Henn:
Correr o campeonato americano, o AMA, seria uma grande conquista. Este ano tive
a oportunidade de realizar uma pré-temporada nos Estados Unidos, até participei
de algumas provas amadoras por lá. É uma realidade bastante diferente da nossa,
eles estão muito a frente e tudo impressiona. Queria poder viver tudo isso um
dia e ainda me sobressair. Mas mantenho meus pés no chão e sigo trabalhando firme.
O que tiver que ser, será.
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